Editorial

Resumo

É tão grande o poder e a eficácia que se encerram na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual (DV 21).

Diante disso, a Igreja no Brasil, ao apresentar aos fiéis a Carta aos Efésios como objeto de estudo e de oração no mês da Bíblia, dá voz à perene fome e sede que a Igreja tem do seu Senhor “até que ele venha” (1Cor 11,26). Neste sentido, o presente fascículo da Revista Coletânea oferece ao leitor uma visão poliédrica e, ao mesmo tempo complementar, de uma das Cartas paulinas de maior complexidade retórico-teológica: Paulo de Tarso, aquele que se fez “tudo para todos” (1Cor 9,22), se dirige aos efésios como “apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus” (Ef 1,1) e “ministro do Evangelho”, com a missão de “por em luz a dispensação do mistério oculto desde os séculos em Deus” (Ef 3,7.9), isto é, também aos gentios é oferecida a graça da redenção em Cristo.

A missão paulina que ecoa na Carta aos Efésios, encontra no âmbito exegético um vivo objeto de estudo, colocando-a no rol das assim chamadas Cartas deuteropaulinas, fato que demonstra tanto a vivacidade quanto a densidade do debate atual sobre este texto. Nos últimos vinte anos o mundo anglófono tem feito grandes progressos no estudo do papel do secretário na Antiguidade, o que permite avaliar com maior clareza a autoria paulina da Carta aos Efésios. Tal discussão não minimiza ou mesmo invalida o valor inspirado deste testamento espiritual de Paulo! Esta evidência se manifesta na penetrabilidade da Carta ao Efésios na vida da Igreja, como o demonstram os artigos que constituem este fascículo, abrangendo três áreas do saber, caras ao pensamento beneditino: Teologia, Filosofia e Educação.

Este fascículo tem a sua ouverture solene com o artigo do Prof. Pe. Waldecir Gonzaga, Diretor do Departamento de Teologia da Puc-Rio e Jair Pereira Lacerda Filho, que abordam os fundamentos veterotestamentários da Carta aos Efésios, num estudo que supre uma lacuna em língua portuguesa sobre este delicado tema de Efésios. Em seguida, D. Henrique de Gouvêa Coelho, OSB analisa a complexa dinâmica da Carta aos Efésios a partir da Tradição viva da Igreja, tendo como ponto de partida o comentário de São João Crisóstomo a este texto paulino. Por sua vez, o presidente da Associação dos Liturgistas do Brasil, D. Jerônimo Pereira, OSB aborda a irradiação efésia que se estende vigorosamente na Liturgia da Igreja, dentro da interpenetração vital para a Igreja do binômio lex orandi - lex credendi. Da relação entre o texto bíblico, a Tradição e a Liturgia, brota a leitura beneditina da Carta aos Efésios e seus efeitos na Regra de São Bento e na vida militar, magistralmente desenvolvida por D. Mauro Maia Fragoso, OSB e Héliton Marconi Dantas de Medeiros. A Profa. Lúcia Cavalcante Reis Arruda e D. Tomás Peres, OSB trazem a reflexão filosófica de Heráclito sobre o lógos, um tema de grande importância que germinou em Éfeso antes da revelação cristã do Lógos divino, tema este caro às comunidades paulinas e joaninas da região. O artigo da Dra. Maria Elizabete Neves Ramos, do Grupo de Pesquisa da Faculdade de São Bento, revisita o pensamento filosófico de Hannah Arendt sobre a autoridade, estabelecendo, assim, um diálogo original entre a Paideia clássica e paulina, chegando à realidade da educação brasileira atual.

Uma vez descortinado o amplo horizonte da Carta aos Efésios, que a coletânea destes artigos de excelência oferece a todos os que buscam a Verdade indelével, possam os leitores se tornar uma autêntica “habitação de Deus, no Espírito” (Ef 2,21).