Justiça mercantilizada e sua correlação com a vida inautêntica: da crítica heideggeriana da modernidade à dialética do esclarecimento de Adorno e Horkheimer
Resumo
A dicotomia sujeito-objeto ensejou a preponderância do saber
científico e do saber técnico sobre outros saberes, colocando o mundo e o
próprio humano na condição de seres manipuláveis. O humano, assim tornado
coisa, teve seu valor reduzido à sua capacidade técnica, sendo classificado
e tendo seu sucesso determinado pela maior ou menor produtividade,
ou seja, encontra-se submetido a uma valoração segundo parâmetros mercadológicos,
que reduz tudo a mero recurso, a objetos de troca amoldados
à indiferença do mercado, erigindo-se uma sociedade indiferente, reificada
e regida pelo automatismo imposto pela racionalidade instrumental, que a
torna incapaz de pensar seus rumos, tampouco a justiça de seus fins, na qual
o humano é mera peça da engrenagem do onipresente e onipotente Mercado;
uma sociedade massificada, amorfa, indistinta e indiferente. Insculpido
nesse quadro, e moldado ao seu formato, é que se encontram o Direito
hodierno e a Justiça, que de sua práxis advem: um degradado modelo, que
se reduz a uma linha de produção de demandas e soluções assentadas na
padronização, sob o molde fordista, voltada à satisfação dos anseios de um sujeito-massa, amorfo e sem face, sem espaço para a singularidade, para as nuances da concretude de cada caso; perde-se a individuação pela preponderância das metas e estatísticas quantitativas de avalição mercadológicas, em detrimento da efetiva valoração do conteúdo ético das decisões. Eis aí a mercantilização da Justiça pela mercantilização do instrumento de sua realização, que é o Direito.
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