O sagrado na origem da Música e a música como expressão da potência da sacralidade na história do Ocidente (Parte I)

Autores

  • Ricardo Rocha

Resumo

O assunto tratado sob este tema será dividido em três artigos, cada um em uma edição da revista ‘Coletânea’. O objetivo é o de sintetizar teses formuladas a partir da observação regular, das reflexões dela resultantes e, por fim, das pesquisas e anotações realizadas nas últimas três décadas sobre a gênese musical acontecendo em ambiente sagrado e, daí, a visceral ligação entre música e religiosidade. Em contraponto a este fato, identifica também que, quando uma tribo, povo ou sociedade entra em processo de secularização, inicia-se o desaparecimento paulatino de sua música, ritmos e dança. O recorte usado para a argumentação de que a visão mística da vida e da realidade configura-se como o ambiente, a conditio sine qua non para o processo da gênese musical, é o do desenvolvimento da música na civilização cristã, a única que criou e estabeleceu um sistema de notação eficiente e capaz de traduzir alturas e intervalos sonoros, o que aconteceu no Império Carolíngio no século IX.  A partir do século XIII, com o advento do relógio mecânico e do processo de matematização da música através da crescente influência do Racionalismo aristotélico na Europa, esse desenvolvimento, em particular nas gerações que produziram as chamadas ‘ars antiqua’ e ‘ars nova’ na Escola de Notre-Dame, alcançou um nível ainda mais abstrato, ao somar, à notação dos intervalos sonoros, a de ritmos em suas diferentes e complexas fórmulas. Foi esta tecnologia a responsável pela criação das bases de uma música que se tornaria, após o século XX, dominante em todo o planeta. Este primeiro artigo será dedicado às origens da história musical no Ocidente, de Pitágoras, na Grécia pré-cristã, à Escola de Notre-Dame, entre os séculos XII e XIV, onde foi criada e desenvolvida a polifonia, a notação rítmica e a isorritmia. Ao observarmos com atenção a configuração desta trajetória, salta aos olhos o fato da música sacra vir se revelando, ao longo dos séculos em foco, como um dos mais poderosos instrumentos de construção da identidade cultural da civilização ocidental.

Biografia do Autor

Ricardo Rocha

Ricardo Rocha é pós-graduado em Regência (Kapellmeister) pela Escola Superior de Música da Universidade de Karlsruhe (Alemanha) e Bacharel e Mestre em Regência pela UFRJ. Fundador da Sociedade Musical Bachiana Brasileira (1993), criou e dirigiu o ciclo “Brasilianische Musik im Konzert” para a difusão da música sinfônica brasileira por 11 anos (1989-2000), à frente de grandes orquestras alemães.  Regente titular e convidado no Brasil e no exterior, maestro e professor de Regência em cursos nacionais e internacionais, conta com duas dezenas de DVDs, CDs e programas de TV gravados. Comendador pelo TRT-MT, é autor dos livros Regência, uma arte complexa (2004), e “As Nove Sinfonias de Beethoven – uma Análise Estrutural” (2013). Palestrante em diversos cursos, desde 2010 é também professor de História da Música Sacra no curso de Pós-Graduação Lato Sensu em História da Arte Sacra da FSB-RJ. E-mail: ricardowrocha@uol.com.br 

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